Falta de prioridade para saneamento básico se reflete em grande quantidade de cidades sem coleta de esgoto
A baixa quantidade de municípios brasileiros com coleta de esgoto
adequado reflete as décadas que o país passou sem dar prioridade ao
assunto. A afirmação é do presidente executivo do Instituto Trata
Brasil, Edison Carlos, após apresentar os resultados de levantamento
feito em parceria com a empresa GO Associados.
Segundo os dados, em 34 cidades, dentre as 100 pesquisadas de todas
as regiões do país, mais de 80% da população têm esgoto coletado e,
destas, cinco atendem todo o município: Belo Horizonte (MG), Santos
(SP), Jundiaí (SP), Piracicaba (SP) e Franca (SP). A pesquisa aponta que
em 32 municípios, a coleta varia entre 0% a 40% e em 34, de 41% a 80%.
Quanto ao esgoto tratado, foi verificado que, em 40 cidades, este
serviço não ultrapassa 20% da coleta. Já o nível de excelência ou acima
de 81% só existe em seis localidades: Sorocaba (SP), Niterói (RJ), São
José do Rio Preto (SP), Jundiaí (SP), Curitiba (PR) e Maringá (PR). Em
outras nove, o índice supera os 70%: Ribeirão Preto (SP); Londrina (PR),
Uberlândia (MG), Montes Claros (MG), Santos (SP), Franca (SP), Salvador
(BA), Petropólis (RJ) e Ponta Grossa (PR).
A pesquisa investigou o nível de saneamento nas 100 maiores cidades
brasileiras, com população acima de 240 mil pessoas. Com base em dados
de 2010 do IBGE, nos municípios pesquisados vivem 77 milhões de pessoas,
o equivalente a 40% da população brasileira.
“Saneamento deveria ser básico, mas infelizmente não é e o país está
muito distante de resolver esse problema. No melhor dos cenários
apontado pelo Ministério das Cidades, resolveríamos isso em 20 anos. Se
continuarmos progredindo na velocidade de hoje, estamos prevendo isso
[resolver o problema do saneamento] para 2050. É um drama nacional,
porque a falta da coleta e do tratamento de esgoto retorna para a
população na forma de doenças de todos os tipos”, disse.
Carlos avaliou que os avanços têm existido e a prioridade que vem
sendo dada pelo governo federal por meio do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e de recursos liberados para as cidades, aliadas à
vontade de governadores e prefeitos, têm melhorado. Prova disso é o fato
de que a distribuição de água tratada é oferecida por 90,94% das 100
cidades pesquisadas. Mas a pesquisa mostra que ainda faltam melhorias,
porque em onze cidades, o atendimento está abaixo de 80% da população.
“Nesses municípios estamos muito próximos da universalização da
coleta e do tratamento de esgoto, então existe um avanço, puxado
principalmente pelo Sudeste e Sul. Das 20 melhores cidades, ainda está
tudo muito localizado nessas regiões. Norte e Nordeste são os que mais
precisam avançar, quando avaliamos do ponto de vista nacional”, disse.
Carlos apontou que a solução para o problema começa na mobilização do
cidadão, que deve cobrar do prefeito, já que o saneamento é tema
municipal, independente do serviço na cidade ser de empresa estadual ou
municipal. “Cabe ao cidadão cobrar do prefeito que priorize o saneamento
na sua gestão. Consequentemente o prefeito pressionará o governador, a
empresa de água e esgoto a conseguir financiamento para ampliar o
serviço. Em cidades que estavam no meio da lista há cinco anos e hoje
estão no grupo dos 20, isso aconteceu porque houve prioridade política
absoluta, investimento e construção das redes e estações de tratamento”.
Segundo o presidente executivo do Instituto Trata Brasil, para
conseguir cumprir o prazo de universalização do saneamento básico até
2030 é preciso investir R$ 18 bilhões por ano. Até então os
investimentos têm sido pouco mais de R$ 8 bilhões. “É possível cumprir
esse prazo, mas é um desafio enorme. É necessário que seja uma política
de estado e não de governo. Saneamento não pode ser questão política,
não pode mudar a prioridade porque mudou de prefeito e de partido a cada
quatro anos”.
De acordo com a pesquisa, na média, os 100 municípios destinaram 28%
de sua receita em obras de saneamento. A maioria, num total de 60, não
chegou a utilizar 20% dos recursos na ampliação dos serviços. Entre as
oito cidades que aplicaram mais de 80% da verba, os destaque são :
Ribeirão das Neves (MG), Recife (PE), Teresina (PI), Praia Grande (SP) e
Vitória (ES).
O Instituto Trata Brasil é uma Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (Oscip), que tem o objetivo de incentivar uma
mobilização nacional para que o país possa atingir a universalização do
acesso à coleta e ao tratamento de esgoto.
Reportagem de Flávia Albuquerque, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 17/08/2012