terça-feira, 3 de julho de 2012

O lixo que ninguém vê.

"Tá" legal, já entendi essa história toda de "colocar o lixo no lixo". Agora podemos e devemos mesmo separar o lixo orgânico do reciclável. Fazendo isso, praticamos o contraponto às industrias que produzem cada vez mais embalagens desnecessárias,  atendendo pedidos das empresas que querem maior clientela consumindo -primeiro, com olhos - os produtos.


Até aí, tudo certo – já entendi mesmo. Quanto a isso, acho que faço a minha parte – a parte que devo à natureza que me acolhe. Sempre vejo os catadores de papéis, pelas ruas, e lamento que não sejam valorizados, reconhecidos como verdadeiros ambientalistas. Ainda por cima, são muito mal pagos, pelo imensurável serviço que prestam ao meio ambiente futuro, passado, presente.




O lixo que a gente produz, inadvertida e cada vez mais comumente, eu sei aonde deve parar. Você também sabe. ‘Tá’ certo que nosso Brasil ainda peca, pela falta de saneamento básico. Por isso, ainda há tantos lixões por aí, por aqui, em todo lugar. Mas a gente sabe que, se cada qual fizer a parte que lhe cabe – dando destino certo ao lixo -, os lixões a céu aberto (ou fechado) acabam, por falta de lixo extraviado.

Até aí, entendido (acho). Mas onde vai parar tanto lixo que a gente produz em pensamentos, ideias, sentimentos ruins, intenções?… Ah, aposto que você nunca pensou nisso – nem eu. Mas – pronto! – ‘tô’ pensando agora.

É sério. Aonde vai parar tanto lixo que a gente cria, pensa, imagina, deseja, e depois deixa de desejar?… Aonde vai parar todo esse lixo, gente, que deve ser maior que qualquer lixão que possa existir no planeta?…

Cá entre nós, se uma pessoa só já pensa tanta asneira negativa, imagine meia dúzia, dúzia e meia – milhares, milhões, zilhões… É lixo pra caramba!… Aonde vai parar tudo isso?… Ser humano não saberia criar saneamento básico, pra dar destino correto, pra toda essa sujeira… Algumas criaturas costumam guardar dentro de si – sei lá onde – esse lixo todo… Mas acho que chega um dia que o ‘depósito’ arrebenta, estoura, por que não há tanto espaço pra tamanho lixo.

Pense comigo (ou não): se todos nós pensamos mais que falamos, ou agimos, manifestamos, e se, no meio de tanto ‘entulho’, há muito lixo, onde fica tudo isso, hein?… Quando é uma poeirinha inocente, a gente trata logo de esconder debaixo do tapete. Mas, diante de tanto lixo (mental, espiritual, ou sei lá mais o quê), aonde isso tudo vai parar?…

Alguns dizem que somatizamos (esse lixo), e acabamos contraindo doenças… Mas, mesmo assim, se isso ocorre, a doença deve ‘gastar’ cadinho da energia desse lixo todo dos nossos pensamentos, intenções, desejos, sentimentos, mas não deve ‘queimar’ todo esse lixo. É muita coisa, gente – sejamos honestos (sei lá com quem).

Lixo é sempre lixo – ainda que, há algum tempo, a humanidade esteja reciclando, e até confeccionando arte e utilidades com o que é retirado da lixeira. Tudo bem. O trabalho é admirável. Que a gente aprenda reciclar o que pode ser reciclado dos nossos pensamentos, intenções, sentimentos e desejos. Maravilha!… Mas e o resto? – insisto em questionar.

Onde vai parar o grande lixo de cada um de nós?… Neste caso, não há jeito de a gente pedir auxílio de ambientalistas, nem de catadores de papel, ou lixeiros. É por nossa conta. Não tem jeito.

Nara França é jornalista gaúcha, tendo sempre trabalhado em redação de jornal, e hoje atuando em entidades sindicais e movimentos sociais, no sul do Brasil. EcoDebate, 08/06/2012