Dubai: cidade ecologicamente
insustentável.
Dubai é uma cidade
que se vende como se fosse uma grande Itu do deserto. Em Dubai tudo é superlativo:
o mais alto prédio do mundo, o hotel mais luxuoso e caro do globo, o maior
shopping center, o maior aeroporto, etc. Além disto, construiram uma montanha
de neve artificial para esqui, piscinas com ondas, um campo de golf que precisa
de milhões de galões de água por dia, restaurante construído em gelo, hóteis
feitos em granito, mármore e ouro, etc. E muito, muito automóveis e ar
condicionados. Ninguém anda a pé.
Com o dinheiro do
petróleo o governo dos Emirados Árabes Unidos investiu na construção de uma
cidade totalmente artificial no meio das dunas quentes, como se fosse uma
Dineylandia do deserto. Mas não foi uma cidade feita para economizar energia,
água ou se adaptar às condições inóspidas do semi-árido, como faziam os antigos
beduinos. Ao contrário, criaram uma cidade das Mil e Uma Noites voltada para o
luxo, o desperdício, a desigualdade social, a falta de liberdade e a
insustentabilidade ambiental.
Dubai é o ícone da
insustentabilidade. A Shangri-La do Oriente Médio foi construída do nada em
poucas décadas de bolha de crédito, com supressão de direitos, escravidão e
ecocídio. Depois da crise de 2009 os segredos de Dubai e o lado obscuro da
cidade estão aparecendo. Enquanto isto algumas ilhas artificiais (construidas
em um conjunto em forma de palmeira) estão afundando e os lagos artificiais
estão possibilitando a propagação de algas que emitem um odor fétido e atraem
mosquitos, ao mesmo tempo que afastam os investidores.
Sem os
trabalhadores estrangeiros e sem o petróleo a cidade de Dubai não sobrevive.
Pode até ser que o turismo gere alguma fonte de receita, mas as desigualdades
sociais e a falta de liberdade política não é um modelo que atraia muita
atenção do mundo. A família real se acha dona do país e vê as pessoas como seus
servos. Aliás, prativamente toda a população nativa trabalha para o governo,
que tem sua fonte de renda no petróleo e na renda de imóveis e terrenos.
Portanto, Dubai
pode ser uma boa cidade para se comprovar a capacidade humana de construir
obras dignas das Sete Maravilhas do Mundo. Mas como as pirâmides dos Faraós,
Dubai também pode se tornar apenas um símbolo de uma cidade ecologicamente
insustentável no meio do deserto que será incapaz de sobreviver depois do fim
dos combustíveis fósseis e das bolhas imobiliárias.
Artigo condensado de autoria de José Eustáquio Diniz Alves - Doutor em demografia e professor
titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola
Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE