Primeiro Edifício em Estrutura Metálica do Brasil
Adaptado por Arq. Walter Otto Rupp
Em 1954, um empresário paulista, Dr. Francisco Cintra Gordinho, preocupado com o problema de estacionamento que surgia na cidade com o desenvolvimento da indústria automobilística, resolveu construir um edificio garagem, pois não havia ainda na época um edifício deste tipo em toda a cidade e talvez em todo o Brasil, adquiriu um terreno no centro, para esse tipo de empreendimento.
0 terreno escolhido era uma barroca, nos fundos do edifício da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no trecho entre a Ladeira Riachuelo e o local onde hoje chega a Avenida 23 de Maio, próximo à Praça da Bandeira, no vale do Anhangabaú. 0 terreno era irregular em planta e em corte. Esse detalhe é importante para ressaltar a importância do projeto.Com uma topografia “ruim” tinha a vantagem de possibilitar saídas para duas ruas, e ao fato de que, abrindo-se em leque permitiria acessos em rampas, solução julgada na época, mais econômica do que com elevadores para veículos.
Como de praxe na época, o prédio foi previsto ser construido totalmente em concreto armado. No entanto, surgiram dois fatores que dificultaram essa realização na forma convencional.
1. As colunas no primeiro pavimento atingiriam dimensões tais que deixariam, no trecho da rua Riachuelo, uma largura livre, pouco maior que 9 m, insuficiente para o estacionamento de dois carros frente à frente, dificultando a entrada e saída.
2. A fim de que se pudesse erguer o edifício, seria necessário escavar-se até o nível de 18 m abaixo da rua Riachuelo, para então se fazer as sapatas de fundação. Esse movimento de terra colocaria em perigo o prédio vizinho ao lado, com risco de desabamento. A construção de muro de arrimo e escoramentos era altamente antieconômica.
Para a construção, cujo projeto era de autoria do Arquiteto Rino Levi, foi contratada a empresa Cavalcanti Junqueira S.A., com projeto de fundação da empresa Engenharia de Fundações S.A., e com projeto de concreto do Professor Ruy Leme.Fig 01 - Chegada das primeiras vigas baldrame, deslizando sobre roletes. Na ocasião havia grande dificuldade na obtenção de equipamentos. |
Fig.02 – Assentamento das vigas baldrame usando apenas mastros de montagem. Não houve uso de guindastes, dada a grande dificuldade em obte-los. |
Fig.03 – As diversas vigas baldrame sobre as estacas, uma para cada três estacas. |
Fig.04 – Vista do 6º teto já concretado e as vigas do 5º já colocadas, notar as condições precárias do canteiro. |
Considerados os problemas de fundações, com as dificuldades citadas, em vista das características do terreno, foi pela primeira vez no Brasil, aventada a solução de fundações em estacas metálicas.
Os engenheiros da Engenharia de Fundações S.A., Lauro Rios e Professor Victor Mello, nomes sobejamente conhecidos, imaginaram a solução de 2 perfis 1 soldados pelas abas, formando um caixão. Isso, nos anos de 1954, era absoluta novidade e se constituiu num grande desafio.Hoje a solução é adotada de forma normal, na maioria dos casos de estaqueamento metálico. As obras do metrô de São Paulo e do Rio adotaram a solução, a qual passou a ser conhecida na época como “Solução Paulista".
Para o obtenção das estacas, foi procurada a Companhia Siderúrgica Nacional, quando na Gerência de Vendas da CSN o então Cel. Santiago convenceu o proprietário da Garagem a fazer todo o prédio em aço.A CSN, única produtora desses perfis, que deveriam resistir à corrosão, pois ficariam em contato direto com a terra, forneceu os perfis em liga especial com alto teor de cobre, o que sem dúvida se constituía num grande retardador da corrosão. Na ocasião não se falava no Brasil, em aço Corten ou outro similar.
Para isso foi contratado o Dr. Paulo Fragoso, autor do projeto estrutural metálico do prédio e, a fabricação sob o comando do Eng. Heitor Lopes Correia. Mais de uma centena de desenhos foram executados por desenhistas todos formados aqui, sob orientação do então chefe, da Sala de Desenhos, Roosevelt Carvalho, ex-Secretário Executivo da ABCEM.