sexta-feira, 29 de junho de 2012


Dubai: cidade ecologicamente insustentável.



Dubai é uma cidade que se vende como se fosse uma grande Itu do deserto. Em Dubai tudo é superlativo: o mais alto prédio do mundo, o hotel mais luxuoso e caro do globo, o maior shopping center, o maior aeroporto, etc. Além disto, construiram uma montanha de neve artificial para esqui, piscinas com ondas, um campo de golf que precisa de milhões de galões de água por dia, restaurante construído em gelo, hóteis feitos em granito, mármore e ouro, etc. E muito, muito automóveis e ar condicionados. Ninguém anda a pé.

Com o dinheiro do petróleo o governo dos Emirados Árabes Unidos investiu na construção de uma cidade totalmente artificial no meio das dunas quentes, como se fosse uma Dineylandia do deserto. Mas não foi uma cidade feita para economizar energia, água ou se adaptar às condições inóspidas do semi-árido, como faziam os antigos beduinos. Ao contrário, criaram uma cidade das Mil e Uma Noites voltada para o luxo, o desperdício, a desigualdade social, a falta de liberdade e a insustentabilidade ambiental.

Dubai é o ícone da insustentabilidade. A Shangri-La do Oriente Médio foi construída do nada em poucas décadas de bolha de crédito, com supressão de direitos, escravidão e ecocídio. Depois da crise de 2009 os segredos de Dubai e o lado obscuro da cidade estão aparecendo. Enquanto isto algumas ilhas artificiais (construidas em um conjunto em forma de palmeira) estão afundando e os lagos artificiais estão possibilitando a propagação de algas que emitem um odor fétido e atraem mosquitos, ao mesmo tempo que afastam os investidores.

Sem os trabalhadores estrangeiros e sem o petróleo a cidade de Dubai não sobrevive. Pode até ser que o turismo gere alguma fonte de receita, mas as desigualdades sociais e a falta de liberdade política não é um modelo que atraia muita atenção do mundo. A família real se acha dona do país e vê as pessoas como seus servos. Aliás, prativamente toda a população nativa trabalha para o governo, que tem sua fonte de renda no petróleo e na renda de imóveis e terrenos.

Portanto, Dubai pode ser uma boa cidade para se comprovar a capacidade humana de construir obras dignas das Sete Maravilhas do Mundo. Mas como as pirâmides dos Faraós, Dubai também pode se tornar apenas um símbolo de uma cidade ecologicamente insustentável no meio do deserto que será incapaz de sobreviver depois do fim dos combustíveis fósseis e das bolhas imobiliárias.

Artigo condensado de autoria de José Eustáquio Diniz Alves - Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE